sábado, 12 de fevereiro de 2011

Adoro olhar os carrinhos alheios quando vou às compras no supermercado. Vasculho rapidamente com um olhar disfarçado cada cestinha, como se os produtos selecionados por cada um, ali juntinhos, dissessem um pouco dos seus donos.
Penso por exemplo, no quanto aquele menino come besteira e até deduzo que é solteiro ou que não sabe cozinhar devido a quantidade de congelados, pães e frios na sua cesta. Ou que aquela senhora deve ser vegetariana ou está de dieta, ou que teremos um churrasco no fim de semana daquela família, ou que a moça está de TPM, levando tanto chocolate.
Esta semana, por exemplo, estava eu numa fila que não andava, então não pude evitar a observação. O rapaz da minha frente levava tomates, pimentões, pão sírio, bife borboleta, requeijão e ah, havia um vinho, tinto, tentei, mas não consegui ver se era seco ou suave. Mas enfim, o imaginei picando tudo e colocando no pão, depois gratinando talvez e comendo tudo, degustando uma boa taça de vinho. Então a conclusão que tive foi que morava sozinho e que possivelmente era estudante. O homem a sua frente levava pães fresquinhos, mussarela, presunto e 2 pacotes de mucilon. Refleti por um tempo se o mucilom seria para um filho, mas o senhor me parecia um pouco acima da faixa etária comum para ser pai de uma criança (sem preconceitos) então poderia ser para um neto, quem sabe. Mas a melhor observação foi: o senhor, com uma cara tranquilíssima, se vendo na atmosfera demorada da fila do supermercado, recostou-se do caixa vazio, abriu o pacote de pão, colocou algumas fatias do presunto dentro e fez ali mesmo o seu café vespertino. E nem nos ofereceu! O rapaz na minha frente, e que estava atrás dele, olhava de canto de olho, franzindo às vezes a testa e fiquei tentando adivinhar o que ele estaria pensando sobre o homem e seu café. Eu? Eu pensei que ele estava com fome e que não aguentava esperar, que mal há, o pão é dele. Quer dizer, era do supermercado, mas passando o caixa já seria literalmente dele.
A cena seguinte fechou o momento. Vi o mesmo rapaz flertar com a caixa, mulher bonita e bem maquiada. Ele tentou, mas a menina era dura na queda e nem sequer ergueu o olhar pra perceber que o rapaz a fitava.

Depois disso, comprei meus congelados, iogurtes, pães e frios e segui pra casa.

Um comentário:

Fabio Rocha disse...

Há poesia em tudo. O importante é o olhar...